FILOSOFIA 1 ANOS TERCEIRO BIMESTRE 2019
98. A máquina de experiência
Robert estava sentado diante do formulário
de autorização havia duas horas, mas ainda não sabia se devia assiná-lo ou
rasgá-lo. Era uma escolha entre dois futuros.
Em um deles, suas perspectivas eram
desanimadoras, e as chances de realizar seus sonhos, mínimas. No outro, ele
seria um astro do rock famoso, com a garantia de que seria mantido
permanentemente feliz. Você pode achar que não parece ser uma escolha difícil.
Mas enquanto sua primeira vida seria no mundo real, a segunda seria passada
inteiramente dentro da máquina de experiência.
Esse artefato permite que você viva toda
a sua vida em um ambiente de realidade virtual. Todas as suas experiências são
projetadas para fazer você mais feliz e mais satisfeito. Mas uma coisa é
crucial: uma vez na máquina, você não tem idéia de que não está no mundo real,
nem de que o que está acontecendo a você foi projetado para atender às suas
necessidades. Parece que você está vivendo uma vida normal no mundo normal, só
que, nessa vida, você é um dos vencedores para quem tudo parece dar certo.
Robert sabe que, uma vez dentro da
máquina, a vida será fantástica. Mas alguma coisa em sua impostura faz com que
ele hesite em assinar a autorização que o levará ao paraíso.Fonte: Capítulo 3 de Anarchy, State and Utopia, de Robert
Nozick (Basic Books, 1974) fácil ver por que Robert está hesitante. A
vida na máquina seria falsa, espúria, irreal. Mas por que uma vida
"real" autêntica, com seus ciclos desapiedados de altos e baixos,
seria preferível a uma falsa e feliz?
Um vendedor da máquina de felicidade
poderia apresentar argumentos poderosos de que não é. Primeiro, considere o que
significam "autenticidade" e "real". Uma pessoa autêntica é
quem realmente é, não o que finge ser. Mas Robert ainda será Robert na máquina.
Ele pode revelar sua verdadeira personalidade lá com a mesma facilidade que
fora dela.
Então você poderia dizer que no mundo
real você se torna um astro do rock por mérito, ao passo que na máquina a
recompensa não seria por seus próprios esforços. Ao que se pode retrucar: você
já escutou muitos astros do rock? O talento pouco tem a ver com isso; a sorte e
a oportunidade são tudo. A fama de Robert na máquina não será menos merecida
que a fama de inúmeros aspirantes a celebridade que conseguem galgar o caminho
escorregadio do mundo pop. Na verdade, essa é a grande recomendação da máquina
de experiência. O sucesso na vida depende muito da sorte: você nasceu no lugar
certo, na hora certa, com os pais certos? Você foi agraciado com as habilidades
que sua sociedade valoriza e recompensa? Você teve acesso às pessoas e lugares
que poderiam ajudá-lo a progredir? Dizer que é melhor submeter-se à
misericórdia de Dona Sorte quando se pode escolher ser feliz é loucura.
Em relação à idéia de que estaria
abandonando o mundo real, poderíamos dizer: caia na real. O mundo em que você
vive agora não passa da soma de suas experiências: o que vê, escuta, sente,
prova, toca, cheira. Se acha que é mais real porque é causado por processos subatômicos
em vez de chips de silício, talvez você precise repensar sua noção de
realidade. Afinal de contas, mesmo nosso conceito do mundo da ciência além das
experiências é, em última instância, baseado em observações e experimentos
inteiramente dentro do mundo da experiência. Então, de certa forma, a realidade
não passa de aparências.
E, contudo, nós ainda podemos não querer
entrar na máquina, determinados como somos de que nosso futuro seja o máximo
possível produto de nossa vontade e de nossos esforços. Se insistirmos com essa
recusa em entrar na máquina, então pelo menos uma coisa deve ser verdade:
quando consideramos o que atende aos nossos melhores interesses, nos
preocupamos com mais do que felicidade. Não fosse assim, entraríamos na máquina
como uma bala.
Livro: O porco filósofo
100 EXPERIÊNCIAS DE PENSAMENTO
PARA A VIDA COTIDIANA/ Julian Baggini
1. É possível saber que não estamos vivendo em uma “máquina
de experiência”?
2. Você assina ou não a autorização para passar a viver na
“máquina de experiência”? Por que?
3. Existe uma mesa que tem certa natureza intrínseca e que
continua a existir quando não a estou olhando, ou a mesa é simplesmente um
produto de minha imaginação, uma visão-de-mesa num sonho muito prolongado?
O que é intríseca?
ResponderExcluirQue faz parte da essência de alguém
Excluir